A primeira edição de X-Men Gold gerou muita controvérsia nos EUA e na Indonésia |
A editora Marvel Comics se retratou publicamente após o desenhista da primeira edição de uma nova série dos X-Men incluir na arte da publicação referências a uma polêmica político-religiosa em curso na Indonésia.
Colaborador freelancer da empresa, Ardian Syaf é indonésio e muçulmano. Ele foi chamado de "fanático" e acusado de "disseminar o ódio" por usuários de redes sociais por conta de seu trabalho na HQ.
A primeira edição da série X-Men Gold foi publicada na semana passada. O desenhista disse à mídia indonésia que de fato expressou suas visões políticas na publicação, mas negou que quisesse propagar ódio.
A Marvel disse que as referências consideradas ofensivas serão excluídas de reimpressões e que aplicará medidas disciplinares contra Syaf.
Dois símbolos
Esse trecho é interpretado por alguns como uma indicação de que muçulmanos não devem ter judeus ou cristãos como líderes.
O número 51 aparece em outros pontos ao longo da edição, esquentando ainda mais a controvérsia, por ser interpretado como uma referência ao julgamento de um importante político do país, acusado de blasfêmia.
A mesma passagem do Alcorão foi citada pelo governador da região de Jacarta, capital do país, durante a campanha eleitoral no ano passado, causando uma onda de indignação, especialmente entre muçulmanos conservadores.
A promotoria diz que Basuki Purnama - mais conhecido no país como Ahok -, que é cristão e descendente de chineses, insultou o islã. Ele pode ser condenado a até cinco anos de prisão.
Purnama diz que seus comentários se referiam a "políticos que usavam a passagem incorretamente" para se posicionar contra sua reeleição.
O segundo símbolo aparece escrito em uma cena em que a personagem Kitty Pride, atual líder dos X-Men, fala com pessoas na rua. Muitos leitores ligaram o número "212" escrito em uma parede à data do maior protesto já organizado por muçulmanos conservadores contra Purnama, em 2 de dezembro de 2016. Syaf já havia dito que participara desse protesto.
'Não refletem visão do autor'
A Marvel disse que as referências foram incluídas na arte da edição sem que a empresa tivesse conhecimento de seu significado. "Elas não refletem a visão do autor, dos editores ou de qualquer outra pessoa na Marvel e vão contra os ideiais de inclusão que a Marvel Comics e os X-Men defendem desde sua criação."Os X-Men são um grupo de super-heróis mutantes que lutam contra o radicalismo e o preconceito e pela paz com humanos.
Gary Choo, ilustrador que já trabalhou para a Marvel, diz que ocultar referências a posições e ideais políticos em HQs não é algo novo.
"A política vai continuar a estar presente nos quadrinhos, mas, pelo que a Marvel representa, esse episódio definitivamente não se encaixa nas suas histórias", disse Choo.
Basuki Purnama é primeiro não-muçulmano a governar capital da Indonésia |
Mas isso não deu fim aos comentários críticos de fãs e leitores. "Ninguém precisa 'conhecer você' para entender o que você fez", disse Andy Apsay no Facebook. "Foi descarado e intencional. Engula seu orgulho. Você não é mais importante que a Marvel."
Outros como Gusti Sumariana disseram que o artista estava "disseminando o ódio contra cristãos e judeus" por meio do seu trabalho. "Mantenha seu fanatismo longe dos X-Men", escreveu outro usuário na rede social.
Houve quem defendesse Syaf. "As pessoas são livres para reagir como quiserem. Artistas são livres para expressar o que quiserem", escreveu um indonésio no Facebook.
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